21 novembro, 2011

Carlos Drummond de Andrade

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
(Carlos Drummond de Andrade)



4 comentários:

  1. Olá amiga,
    Encontrei-te hoje, entre meus seguidores, no meu blog.
    Espero que tenhas gostado do meu recanto. É um prazer receber sua visita, Gostaria que colocasse um comentário sobre minha postagem. Já estou a seguir-te.
    Desejo uma semana com muita paz e luz para você.
    Beijos,
    Maria Paraguassu.

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  2. Olá Maria Paraguassu,

    Que bom tê-la por aqui! Seja muito bem vinda!
    Prazer em conhecê-la!

    Estou acompanhando seus posts também!!!
    Está muito belo seu blog! Parabéns!!!

    Grande Abraço,
    Renata.

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  3. Muito obrigado, Renata! Lindo blog, belíssimas poesias!

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  4. Obrigada a todos!!!

    Sintam-se em casa aqui em meu cantinho virtual!!!

    bjs,
    Renata.

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